segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ele ainda sabia meu nome....

Eu de algo doce, era tão cedo,
estava frio,
esse frio de que quando respiras
parece que sai fumaça de você,
eu bem sei que existe uma explicação decente para isso,
mas a simplicidade do que vos entrego
em formas de letra,
tomou meu dia todo,
algo tão simples,
me fez sentir tão especial,
É incrivel como a humanidade se regenera,
sim eu estou acostumada,
por vezes frustada e desacreditada da moral,
Então saindo, fui até alguem que me venderia chicletes,
nada rustico e no meio das montanhas,
ainda que, essa pequena cidade por vezes possa lembrar,
um lugarzinho no meio do nada com sabor de chocolate....
E lá estava ele,
temprano, cedo, auxiliando alguns passageiros a mudar de onibus,
O tio, que junta papelão,
nos conhecemos em um dia de chuva,
onde meu cabelo estava lindamente penteado,
e a tia da limpeza, estava de atestado,
humildemente me pediram que abrisse para ele o portão,
foi a primeira vez que o vi de perto,
ele me deu bom dia,
apesar da chuva e estar todo molhado,
eu não poderia dizer corretamente a idade,
e covardemente me pareceria fazer-lo,
eu não sei se ele nasceu com tais dificuldades fisicas,
ou estas mesmas se agregaram durante a vida.
Perna e mão esquerda, com deficiencia,
ele precisaria caminhar até o fim do pavilhão enorme, por fora,
onde não tem algo que o proteja da chuva,
para chegar lá e buscar o que lhe dá sustento,
papelão, latas, vidros e tudo que se possa reciclar,
Mas voltando ao encontro, ele me disse,
Bom dia moça, obrigada por abrir o portão para mim,
e desculpe incomodar, deve estar ocupada,
Olhei pra ele e disse, bom dia.
Naquele momento eu realmente estava ocupada,
o simples fato de sair do meu trabalho e abrir o portão
na chuva, me deixou de fato irritada,
afinal, existem mil pessoas que poderiam fazer isso,
Logo ao abrir o portão,
ele me disse,
Moça posso saber seu nome?
eu disse, Aline e o seu?
me respondeu Luiz,
Deveria esperar, até ele retirar as coisas,
mas ele demorou muito, afinal,
percebi da deficiência dele, apenas quando ele voltava, com algumas latas
e canudos de papelão nos braços,
arrastando uma perna,
e me senti egoistamente horripilante,
Caminhei e passando por ele, me dirigi peguei os papelões,
segui até a frente onde estava o carrinho,
enquanto fiz 4 viagens ele mal podia fazer duas,
enchemos o carrinho,
Me chamaram e disseram
Ali, você não precisa fazer isso,
mas eu confesso que, enquanto ia e voltava,
com aqueles papelões e latas,
eu me senti deficiente,
de humanidade, dona de meu tempo,
voltando a ser escrava de mim, meu tempo,
me dando tão pouco,
em um ano, esse lindo sistema capitalista, havia de certa
forma cativado meu coração,
Pensei mil coisas em pouco tempo,
e isso ficou martelando meu ser ,
 realmente abalaram-se em minhas estruturas,
descobres quem es em um momento assim,
fui ajudada muito mais, do que seria util ajudando a Luiz,
naquela manhã chuvosa,
Mas viria hoje a recompensa,
Ele me viu, e gritando disse,
Bom dia Princesa Aline,
eu não lembro nem do meu pai, me dizendo assim,
Então meus olhos se encheram de lágrimas,
e quando voltei ao trabalho,
precisei lavar o rosto,
porque de certa forma,
era imerecido, tal bom dia,
Eu já dormi com homens que nunca enviaram um bom dia,
paguei para trabalhar, sendo voluntária, e fui tratada com desrespeito,
já tive meus direitos não respeitados,
já sofri injustiças de várias maneiras,
E sempre tive uma boa resposta,
de personalidade reativa,
feri antes de ser ferida,
e hoje,
nessa fria manhã ,
de um inverno que começa a se despedir,
Alguém me diz de maneira tão iluminada Bom Dia,
alguém que poderia se conformar com o salario de invalidez que o governo
proporciona,
ele poderia estar dormindo naqueles dois dias,
aquele chuvoso e feio,
e o de hoje,
tão frio,
Ele estava ajudando as pessoas,
E ele sabia meu nome,
Eu disse apenas uma vez,
e ele sabia,
Eu me senti importante,
me senti bonita,
porque a simplicidade que tal alma abrange,
faz todos meus conhecimentos um lixo,
Eu conheci homens, lindos, inteligentes
importantes,
montados em seus bmw, e carros do ano,
Homens que viajam, homens que são interessantes
para quase todos,
Mas hoje, quem me arrancou lágrimas de emoção,
foi a simplicidade do Luiz,
o tio do papelão,
Ele me ensinou que um gesto que mude de alguma maneira
teu egoismo,
Pode transformar uma manhã desta,
como a de hoje,
em uma lição.

Sim, me correm as lágrimas,
porque quanto mais penso sobre isso,
mas sofro de metanoia,
mas quero ser cúmplice,
quero lutar com meu egoismo,
quero sim destruir-lo
julgar menos,
ser menos.
Para poder chegar...


Carinhosamente. PRINCESA ALINE.


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