Eu de algo doce, era tão cedo,
estava frio,
esse frio de que quando respiras
parece que sai fumaça de você,
eu bem sei que existe uma explicação decente para isso,
mas a simplicidade do que vos entrego
em formas de letra,
tomou meu dia todo,
algo tão simples,
me fez sentir tão especial,
É incrivel como a humanidade se regenera,
sim eu estou acostumada,
por vezes frustada e desacreditada da moral,
Então saindo, fui até alguem que me venderia chicletes,
nada rustico e no meio das montanhas,
ainda que, essa pequena cidade por vezes possa lembrar,
um lugarzinho no meio do nada com sabor de chocolate....
E lá estava ele,
temprano, cedo, auxiliando alguns passageiros a mudar de onibus,
O tio, que junta papelão,
nos conhecemos em um dia de chuva,
onde meu cabelo estava lindamente penteado,
e a tia da limpeza, estava de atestado,
humildemente me pediram que abrisse para ele o portão,
foi a primeira vez que o vi de perto,
ele me deu bom dia,
apesar da chuva e estar todo molhado,
eu não poderia dizer corretamente a idade,
e covardemente me pareceria fazer-lo,
eu não sei se ele nasceu com tais dificuldades fisicas,
ou estas mesmas se agregaram durante a vida.
Perna e mão esquerda, com deficiencia,
ele precisaria caminhar até o fim do pavilhão enorme, por fora,
onde não tem algo que o proteja da chuva,
para chegar lá e buscar o que lhe dá sustento,
papelão, latas, vidros e tudo que se possa reciclar,
Mas voltando ao encontro, ele me disse,
Bom dia moça, obrigada por abrir o portão para mim,
e desculpe incomodar, deve estar ocupada,
Olhei pra ele e disse, bom dia.
Naquele momento eu realmente estava ocupada,
o simples fato de sair do meu trabalho e abrir o portão
na chuva, me deixou de fato irritada,
afinal, existem mil pessoas que poderiam fazer isso,
Logo ao abrir o portão,
ele me disse,
Moça posso saber seu nome?
eu disse, Aline e o seu?
me respondeu Luiz,
Deveria esperar, até ele retirar as coisas,
mas ele demorou muito, afinal,
percebi da deficiência dele, apenas quando ele voltava, com algumas latas
e canudos de papelão nos braços,
arrastando uma perna,
e me senti egoistamente horripilante,
Caminhei e passando por ele, me dirigi peguei os papelões,
segui até a frente onde estava o carrinho,
enquanto fiz 4 viagens ele mal podia fazer duas,
enchemos o carrinho,
Me chamaram e disseram
Ali, você não precisa fazer isso,
mas eu confesso que, enquanto ia e voltava,
com aqueles papelões e latas,
eu me senti deficiente,
de humanidade, dona de meu tempo,
voltando a ser escrava de mim, meu tempo,
me dando tão pouco,
em um ano, esse lindo sistema capitalista, havia de certa
forma cativado meu coração,
Pensei mil coisas em pouco tempo,
e isso ficou martelando meu ser ,
realmente abalaram-se em minhas estruturas,
descobres quem es em um momento assim,
fui ajudada muito mais, do que seria util ajudando a Luiz,
naquela manhã chuvosa,
Mas viria hoje a recompensa,
Ele me viu, e gritando disse,
Bom dia Princesa Aline,
eu não lembro nem do meu pai, me dizendo assim,
Então meus olhos se encheram de lágrimas,
e quando voltei ao trabalho,
precisei lavar o rosto,
porque de certa forma,
era imerecido, tal bom dia,
Eu já dormi com homens que nunca enviaram um bom dia,
paguei para trabalhar, sendo voluntária, e fui tratada com desrespeito,
já tive meus direitos não respeitados,
já sofri injustiças de várias maneiras,
E sempre tive uma boa resposta,
de personalidade reativa,
feri antes de ser ferida,
e hoje,
nessa fria manhã ,
de um inverno que começa a se despedir,
Alguém me diz de maneira tão iluminada Bom Dia,
alguém que poderia se conformar com o salario de invalidez que o governo
proporciona,
ele poderia estar dormindo naqueles dois dias,
aquele chuvoso e feio,
e o de hoje,
tão frio,
Ele estava ajudando as pessoas,
E ele sabia meu nome,
Eu disse apenas uma vez,
e ele sabia,
Eu me senti importante,
me senti bonita,
porque a simplicidade que tal alma abrange,
faz todos meus conhecimentos um lixo,
Eu conheci homens, lindos, inteligentes
importantes,
montados em seus bmw, e carros do ano,
Homens que viajam, homens que são interessantes
para quase todos,
Mas hoje, quem me arrancou lágrimas de emoção,
foi a simplicidade do Luiz,
o tio do papelão,
Ele me ensinou que um gesto que mude de alguma maneira
teu egoismo,
Pode transformar uma manhã desta,
como a de hoje,
em uma lição.
Sim, me correm as lágrimas,
porque quanto mais penso sobre isso,
mas sofro de metanoia,
mas quero ser cúmplice,
quero lutar com meu egoismo,
quero sim destruir-lo
julgar menos,
ser menos.
Para poder chegar...
Carinhosamente. PRINCESA ALINE.
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